1921-1930

26/1/1921: nasce Umberto, na Contrada Ghiandaro, filho de Vincenzo com Rosa Mazziotta. Seu nome foi em homenagem ao Rei Umberto I de Savóia e significa “brilhante pela força”. Humberto Filho conta que o cartório não queria registrá-lo assim por conta de ser nome do rei assassinado em 1900, mas Vincenzo ameaçou fazer o mesmo com o cartorário se não o registrassem dessa forma. Queria que o nome do filho tivesse relação com a dinastia Savóia, assim como Eugenio. Humberto conta ainda que, por um erro de datas, constava para o governo italiano que Umberto era desertor do serviço militar, mesmo sendo bebê. Chegaram até a ir buscá-lo em casa para prendê-lo, com um ano de idade! Umberto foi sapateiro, comerciário e faleceu em 1999, em São Paulo, aos 78 anos. Casou-se com Marina Thomaz no Brasil e deixou 4 filhos.


1921 A 1924: GOVERNOS AMERICANOS DE WARREN HARDING E CALVIN COOLIDGE RESTRINGEM FORTEMENTE A IMIGRAÇÃO AOS EUA

AO MESMO TEMPO, A LEI SECA POSSIBILITA A ASCENÇÃO DA MÁFIA AMERICANA, PERSONALIZADA NO GANGSTER DESCENDENTE DE ITALIANOS AL CAPONE. SEUS PAIS ERAM DE SALERNO, PRÓXIMA A NÁPOLES

11/6/1921: Giuseppe, filho mais velho de Vincenzo, então com 20 anos, migra para Buenos Aires, Argentina, no vapor Garibaldi, que partiu de Gênova com escala em Santos. Este era o principal porto de embarque para a América do Sul, enquanto Nápoles para a América do Norte, embora o que partia de um geralmente parava no outro para embarques. O que não foi o caso desse navio, pois os navios que rumavam para Buenos Aires só partiam do porto de Gênova, fazendo com que Giuseppe tivesse que atravessar toda a Itália de trem. Declarou-se casado, mas desembarcou sozinho, tendo amigos na cidade. Também se declara contadino como o pai e adota o nome de José. 

A esposa Giovannina Formoso, que adotou o nome de Juana, migra pouco depois com dois filhos (Teresa e Vincenzo). Na Argentina, o casal teve mais 3 filhos no decorrer desta década: Emilio, Mario e Alfredo. Giuseppe se estabelece em Ciudadela (cidade vizinha ao bairro de Liniers a oeste, fora da capital), no mesmo endereço onde hoje vive a neta Lucia, filha de Emilio. Parte dos filhos se estabelece depois no bairro próximo de Mataderos. Juana falece em 1959 e Giuseppe se casa novamente com Rosa (Rosita) em 1963. Falece em 1977, aos 77 anos. A família teve sérias desavenças na separação da herança, segundo a neta Etel, filha de Alfredo, que se suicidou devido a isso, em 1979.

Mapa dos bairros de Buenos Aires

Juana com os netos Alícia e Carmelo (filhos de Teresa) na Argentina, nos Anos 1950 (acervo da família)

Mario no Exército Argentino nos Anos 1940 (acervo da família)

Giuseppe pode ter escapado por pouco de servir na 1ª Guerra Mundial, pois a Itália recrutou nascidos até 1899, um ano antes dele nascer. Depois da 1ª Guerra, a Itália ainda se envolveu em diversos conflitos, por isso não se pode descartar a hipótese de ter “fugido” do serviço militar, pois completaria 21 anos apenas 4 meses depois de chegar a Argentina. Caso isso tenha ocorrido, não poderia mais regressar à Itália, por deserção.

Sob o governo do presidente Yrigoyen, o país vivia boa situação econômica (resultado das exportações pós 1ª Guerra), cultural e social, bem melhor que a do Brasil, o que possibilitava rápida ascensão social, especialmente aos mais jovens. Era a 6ª maior economia do mundo, superando Canadá, Austrália e a própria Itália.

Foi o país da América Latina que mais recebeu imigrantes italianos, com quase 3 milhões, embora muitos retornassem ao acordarem do sonho americano, assim como no Brasil. Quase metade vindos do Sul, especialmente da Calábria, que sofria com a pobreza gerada pelo pós 1ª Guerra, secas, consequências de terremotos e técnicas arcaicas de produção agrícola, que deixavam as terras improdutivas. Assim como no Brasil, imigrantes do norte preferiam áreas rurais da Argentina, enquanto os do sul, as grandes cidades. Como estes últimos foram a grande maioria, foi uma imigração portanto essencialmente urbana. O Papa Francisco I, cujo nome real é Jorge Mario Bertoglio, é filho de pai imigrante italiano.

1921: POPULAÇÃO DE BUENOS AIRES ERA CERCA DE 1.700.000 HABITANTES

1/9/1921: Angiolina casa-se em Mancino e tem três filhos com Michele Ambrósio, sendo a única dos filhos de Vincenzo a não sair da Itália.

Vincenzo com filha Angiolina e segunda esposa Rosa na Itália. Pode ter sido a última foto com a filha, pois após seu embarque para a Argentina em 1922, não voltaria mais a vê-la (acervo da família)

1922: EM FEVEREIRO, OCORRE A SEMANA DE ARTE MODERNA EM SÃO PAULO, COM A PARTICIPAÇÃO DE MENOTTI DEL PICCHIA E ANITA MALFATTI, ARTISTAS DESCENDENTES DE ITALIANOS

NO MESMO ANO, UM MÊS DEPOIS, OS AERONAUTAS PORTUGUESES GAGO COUTINHO E SACADURA CABRAL FAZEM A PRIMEIRA TRAVESSIA AÉREA DO ATLÂNTICO SUL

EM JULHO, OCORRE A REVOLTA DOS 18 DO FORTE DE COPACABANA. MOVIMENTO BUSCAVA A QUEDA DA REPÚBLICA VELHA E FOI REPRIMIDO DURAMENTE PELO GOVERNO. FOI A PRIMEIRA REVOLTA TENENTISTA, QUE EM 1924 OCORRERIA TAMBÉM EM SÃO PAULO

EM SETEMBRO, OCORREM DIVERSAS COMEMORAÇÕES PARA O CENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL, COMO A EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DO CENTENÁRIO NO RIO DE JANEIRO

AINDA EM 1922, EM NOVEMBRO É DESCOBERTA A TUMBA DO FARAÓ EGÍPCIO TUTANCÂMON, PELO BRITÂNICO HOWARD CARTER

11/8/1922: morre Elvira, filha de Carlo Maria e prima de Vincenzo, aos 33 anos em São Paulo.

 

9/10/1922: Vincenzo desembarca sozinho no porto de Buenos Aires, com paradas para desembarques no Rio de Janeiro e em Santos. Partia de Gênova, Itália, na viagem inaugural do vapor “Cesare Battisti” (em referência a um herói italiano da 1ª Guerra), sem escala em Nápoles conforme já visto acima. Portanto, Vincenzo teve que atravessar toda a Itália de trem, assim como o filho Giuseppe. Partiu em 16/9, embora o cartaz abaixo indique 2/9 (a viagem deve ter sido adiada, o que era comum).

Tinha 43 anos, declara-se casado, agricultor (contadino) e de religião católica. Não consta referências, mas provavelmente foi residir com o filho Giuseppe. Já devia estar decidido em se estabelecer com a família na América do Sul. Foi primeiramente conhecer a Argentina, onde seu filho havia chegado um ano antes e pode ter incentivado sua vinda. O presidente era Marcelo Alvear.

Vincenzo sabia que não ia conseguir comprar terras na América (assim como provavelmente não teve na Itália), lembrando que esteve duas vezes nos EUA, sem conseguir se estabelecer ou juntar dinheiro suficiente para comprar terras na sua volta.

Além disso, ele podia ser nacionalista, como demonstra o nome que deu ao seu filho Umberto, em homenagem a Casa de Savóia. Poderia ter também alguma simpatia por Benito Mussolini, que havia acabado de tomar o poder com um discurso nacionalista. Apesar do primo Antonio ter retornado dos EUA para se estabelecer, Vincenzo se viu obrigado a partir pela pobreza do pós-guerra, mas talvez estivesse aguardando que as coisas melhorassem um pouco.

Em um registro de fevereiro de 1923 em Buenos Aires, consta como profissão jornalero. À primeira vista, parece que foi trabalhar em banca de jornal. Mas, entendendo a palavra em espanhol, vemos que ela deriva de jornal que significa salário. É um termo usado para pessoas que trabalham no campo somente durante a colheita de verão e que ganham por dia de trabalho, em condições bem duras. Por isso, é possível que tanto ele como o filho Giuseppe foram residir e trabalhar em alguma região rural próxima a Buenos Aires durante aquele verão. Porém, como é sabido, Buenos Aires já era uma grande cidade e é provável que tenha ficado sem oportunidades de trabalho urbano após a colheita, por conta da idade. Também por isso, não teria condições de suportar outra jornada difícil de trabalho por mais um verão. Por isso, decide se mudar para São Paulo, onde já deveria ter conhecimento (através da família) que se tratava de uma cidade menor e com mais oportunidades para o trabalho em áreas rurais próximas, se sujeitando a ser colono desde que fosse algo estável e mais brando. É bom lembrar que a época das grandes colonizações no interior da Argentina, Sul do Brasil e interior de São Paulo já havia passado.

Cartaz da viagem inaugural do Navio Cesare Battisti, em que Vincenzo embarcou

Outro cartaz do Navio Cesare Battisti

Certidão de desembarque de Vincenzo na Argentina

Documento na Argentina, fevereiro de 1923 (acervo da família)

Registro de Vincenzo na Argentina (verso da foto anterior)

10/10/1922: um dia após desembarcar na Argentina, nasce Rosário em San Marco, o 1º dos muitos netos de meu bisavô Vincenzo. Era filho de Angiolina com Michele Ambrosio.

 

1922: EM 31/10, BENITO MUSSOLINI TOMA O PODER NA ITÁLIA DEPOIS DA “MARCHA SOBRE ROMA”, PASSANDO A SER O PRIMEIRO-MINISTRO DO REI VITTORIO EMANUELE III. PASSA A CONTROLAR A EMIGRAÇÃO E NÃO ASSINA MAIS ACORDOS COM O BRASIL DEVIDO AS MÁS CONDIÇÕES DE TRABALHO, EMBORA AINDA TIVESSE INTERESSE NA EMIGRAÇÃO POR RAZÕES POLÍTICAS

20/10/1923: Vincenzo desembarca sozinho no porto de Santos, também no vapor Garibaldi (o “Herói de 2 Mundos”), o mesmo que havia levado o filho Giuseppe dois anos antes. Aparentemente não passou pela Hospedaria de Imigrantes, provavelmente por já ter um destino: a Serra do Mar, onde residia sua prima Maria. Embarcou dia 16/10 em Buenos Aires em 3ª classe, sendo o único a desembarcar no Brasil (o navio seguiria para Gênova). Declara-se casado, sabendo ler, católico e agricultor (contadino), sem bagagens. Passaporte italiano nº 513 concedido em 4/8/1922, com visto do Consulado Geral do Brasil em Buenos Aires em 1/10/1923, já visando sua partida. Ao retirar o Registro Nacional de Estrangeiro em 1939, declarou ter pagado as passagens. O presidente da época era Artur Bernardes.

Conforme mencionado, Vincenzo pode ter desembarcado do trem na Serra do Mar, na região entre Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Como visto no batismo de Francisco Vacca em 1907, ali já residia a família do esposo de sua prima Maria (filha de Carlo Maria) desde os tempos dos núcleos coloniais. Na época do desembarque de Vincenzo, eram possivelmente trabalhadores da Fazenda Rio Pequeno, de Guilherme Pinto Monteiro. Lembrando que seus tios Carlo Maria e Nicola haviam migrado para o Brasil ainda na década de 1880 e Vincenzo devia ter contato constante com seus primos, pois os tios já haviam falecido. Deve ter ficado sem trabalho e oportunidades na Argentina e, com a idade chegando, veio tentar a sorte no Brasil. O importante era encontrar um lugar onde a grande família que mantinha na Itália pudesse se estabelecer melhor e ele pudesse trabalhar a terra. Já estava com 44 anos, o que na época era uma idade avançada, sem condições de trabalhar em fábricas. Ou então, simplesmente não se acostumou com o frio da Argentina e buscava um lugar mais quente para viver.  

Desembarque de Vincenzo em Santos

Cartaz do Navio Garibaldi

Eu na Estação Ferroviária de Santos em 21/10/2023, celebrando o centenário da chegada de Vincenzo

EM ABRIL, É FUNDADO O CLUBE ATLÉTICO JUVENTUS NO BAIRRO DA MOOCA EM SÃO PAULO, POR MEMBROS DA COLÔNIA ITALIANA, FUNCIONÁRIOS DO COTONIFÍCIO CRESPI

6/6/1924: Menos de 8 meses depois de Vincenzo, Rosa Mazziotta (35 anos), sua 2ª esposa e minha bisavó, desembarca em Santos com os filhos Ernesto (4 anos), Umberto (3 anos), Eugenio (14 anos) e enteada Lauretta (22 anos, filha da 1ª esposa Maria Teresa Russo), todos católicos. O navio partiu de Gênova em 19/5, parou em Nápoles onde eles e outros imigrantes embarcaram e ainda passou por Marselha (França), na 3ª classe do Vapor Alsina. Levavam apenas uma mala. Interessante notar que a viagem durou 19 dias, contra os 46 das primeiras viagens, que eram feitas em embarcações a vela. 

Ofício de estado civil de Ernesto em maio de 1923 para a emigração

Eugenio, Umberto e Rosa na Itália provavelmente no início de 1923. Lê-se "visto per l'identitá personale", assinado pelo síndaco (prefeito), com carimbo da delegacia de polícia,  sendo provavelmente o passaporte de família (acervo da família)

No Brasil, aparentemente não passaram pela Hospedaria, desembarcando antes na já mencionada Fazenda Rio Pequeno em Rio Grande (atual Rio Grande da Serra), juntos de outros imigrantes e onde provavelmente Vincenzo já trabalhava e residia com a família da prima Maria. A região era então pertencente a São Bernardo (que ainda não tinha o sufixo "do Campo"). Segundo mapa de 1932 localizado na internet, o local era uma fazenda entre as estações Rio Grande (ainda existente) e Campo Grande, bem próxima da vila histórica de Paranapiacaba. Aparentemente, o lugar hoje é uma indústria de cloro pertencente a Unipar, em um bairro chamado Colônia dos Pescadores (antiga Vila Elclor).

Provavelmente, a fazenda teve início como um rancho às margens das estrada Mogi-São Paulo em 1840 para abrigo de tropeiros, criado pelo Capitão General Antonio Manuel de Melo. A partir da década de 1870, passou a receber imigrantes que não chegavam a desembarcar na Hospedaria do Imigrante no Brás. Ou seja, que já tinham um destino definido. Pelo pouco tempo decorrido entre os dois desembarques, entende-se que a família de Vincenzo só estavam aguardando-o se estabelecer para partirem. Lauretta pode ter vindo direto para São Paulo, como será visto.

A fazenda cultivava laranjas e criava gado, vendendo a produção no Mercado Municipal de São Paulo. Portanto, não cultivava café, o “ouro negro” que atraiu tantos outros imigrantes, pois a Serra do Mar não era propícia para esse cultivo. Praticava a política de imigração subvencionada, como mostra documentos encontrados na internet de outros imigrantes, no mesmo ano de 1924. O imigrante, já como colono, deveria solicitar a restituição do valor pago por ele ou pelo fazendeiro por suas passagens, junto à Secretaria de Agricultura. Não se sabe se a fazenda pagou as passagens da família, mas é possível.

A título de curiosidade, esse imigrante mencionado trabalhava 10 horas por dia e ganhava 6.500 Réis por dia, não inclusa a comida.

Meu avô Ernesto nunca mencionou essa passagem, talvez por ser muito pequeno para lembrar, pois ela deve ter sido curta. Sobre a viagem, dizia que sentiu um certo incômodo. Vicente, filho de Ernesto e neto de Vincenzo, conta também que o pai era reservado para contar as passagens de infância. Na verdade, Ernesto contava que foram para o bairro da Ponte Pequena (o que de fato ocorreu um pouco depois) e que o pai conseguiu um emprego de jardineiro na Prefeitura de São Paulo. Dizia também que não se lembrava de terem passado fome. Vincenzo não adquiriu propriedade no Brasil. 

Nilton (in memoriam), filho de Eugenio, contou que a família criou amizade com o Sr. Guilherme, que deixava eles comerem laranja a vontade, desde que não as levassem para casa.

Conversa com Nilton - filho Eugenio.mp3

Conversa com Nilton Martellotta (in memoriam), filho de Eugênio em 2020

Foto do vapor Alsina, que trouxe a família

Registro de desembarque de Rosa Mazziotta e filhos

Solicitação de restituição de passagem de outro imigrante italiano na Fazenda Rio Pequeno 

1924: POPULAÇÃO BRASILEIRA DE CERCA DE 32 MILHÕES DE HABITANTES. A EXPECTATIVA DE VIDA ERA DE 35 ANOS. A CAPITAL ERA O RIO DE JANEIRO E A MOEDA CORRENTE NO PAÍS ERA O MIL RÉIS

POPULAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO DE CERCA DE 700.000 HABITANTES, SENDO APROXIMADAMENTE 40% DE IMIGRANTES ITALIANOS. CIDADE PASSAVA POR EPIDEMIAS DE FEBRE TIFÓIDE E MENIGITE MENINGOCÓCCICA, NA GESTÃO DE MORAIS PINTO

EM JULHO DO MESMO ANO, REVOLTA PAULISTA TENENTISTA, DEVIDO A CRISE ECONÔMICA E INSISTÊNCIA DA POLÍTICA CAFÉ COM LEITE (SP – MG). BAIRROS OPERÁRIOS SÃO BOMBARDEADOS POR TROPAS DO GOVERNO ARTUR BERNARDES. REVOLTOSOS VENCIDOS DERAM ORIGEM AO MOVIMENTO COLUNA PRESTES NO SUL DO BRASIL, QUE EM 1935 PROMOVEU UMA TENTATIVA DE GOLPE AO GOVERNO GETÚLIO VARGAS CHAMADA DE INTENTONA COMUNISTA

25/2/1925: com a idade de 45 anos, Vincenzo é pai do sétimo filho, já em São Paulo, com Rosa Mazziotta (então com 36 anos). Seria Elvira, em possível homenagem à sua prima falecida 3 anos antes (ainda havia outra prima Elvira, filha de Nicola). Moravam na Rua Antonio Guganis, 4 - Santana (Zona Norte), para onde devem ter ido ao saírem da fazenda em R. G. da Serra, quando Vincenzo deve ter conseguido o emprego de jardineiro na prefeitura de São Paulo. A região da rua, que faria parte mais tarde do Jd. São Paulo, naquela época era formada por pequenos agricultores italianos e o local deveria ser uma chácara.

Elvira deve ter sido gerada logo que Rosa chegou ao Brasil e é possível que tenham saído da serra por causa da gravidez, além do clima úmido. Atualmente, ninguém da família tinha conhecimento desse fato. 

Casa na Rua Antonio Guganis - 4, que pode ter sido o primeiro endereço de meu bisavô em São Paulo (foto atual)

12/3/1925: morre Angela Maria Zavatto, mãe de meu bisavô Vincenzo, em San Marco Argentano. Tinha 71 anos de idade.

1925: MUSSOLINI TORNA-SE DITADOR NA ITÁLIA E INSTITUI O FASCISMO

NO MESMO ANO, É CRIADA A CIA AÉREA TWA NOS ESTADOS UNIDOS. DOIS ANOS DEPOIS, A PAN AM. AMBAS VÃO CONCORRER COM O TRANSPORTE MARÍTIMO POR PASSAGEIROS NAS DÉCADAS SEGUINTES

1926: EM 25/4, A ÓPERA TURANDOT DE GIÁCOMO PUCCINI ESTREIA NO TEATRO SCALA DE MILÃO

EM JUNHO, É PRESO EM SÃO PAULO O FAMOSO BANDIDO GINO MENEGHETTI, NASCIDO NA TOSCANA EM 1888. SUA CAPTURA DEMANDOU UM DOS MAIORES ESQUEMAS POLICIAIS QUE A CIDADE JÁ HAVIA VISTO

EM DEZEMBRO DO MESMO ANO, MORRE NA FRANÇA O CÉLEBRE PINTOR FRANCÊS CLAUDE MONET, PAI DO IMPRESSIONISMO

17/10/1926: Filha de Vincenzo, Lauretta se casa com Giuseppe Leone, nascido em Cassano Allo Ionio, também em Cosenza na Calábria. Neide, filha de Laurettta, conta que seus pais se conheceram na Itália e namoraram escondido, pois Vincenzo não aprovava. Antes da mãe partir para o Brasil, seu pai prometeu a ela que também viria e a encontraria, o que de fato ocorreu, por intermédio de conterrâneos (os paesanos). Porém, na verdade Giuseppe já estava no Brasil desde 1921, conforme consta em seu documento de naturalização.

Segundo Neide, seu pai pediu a mão de Lauretta. Contudo, Vincenzo também não consentiu com a união, que foi consumada mesmo assim em cartório e na Paróquia de N. S. Auxiliadora, no Bom Retiro. Pela certidão, o casal já morava junto no casamento, próximo ao Centro (que seria um cortiço). A filha Carmela havia nascido em agosto daquele ano. Também moraram na Ponte Pequena e Tucuruvi depois. Giuseppe faleceu em 1950 em São Paulo, antes até do que Vincenzo. É possível também que Lauretta tenha vindo diretamente para São Paulo para morar com Giuseppe, como visto, contrariando ainda mais o pai.


Rosa, Umberto, Vincenzo e Eugenio provavelmente em 1927 (talvez na Ponte Pequena). Falta Ernesto. Rosa deveria estar grávida de Antonio - acervo da família

18/3/1927: Morre Elvira, filha de Vincenzo e Rosa, aos dois anos de idade, vítima de Sarampo. Moravam na R. Luiz Pacheco, 10 - Ponte Pequena. Está enterrada no Cemitério de Santana. Vão morar no bairro da Ponte Pequena em São Paulo, talvez pela proximidade com o Centro e do trabalho de Vincenzo e também pela concentração de italianos, especialmente calabreses. O famoso Tramway da Cantareira (o Trem das 11) passava por ali, vindo da Zona Norte. Vincenzo enfim abdica da vida em áreas rurais. 

Neto Nilton (in memoriam) contava que Vincenzo passou por vários endereços em São Paulo, mudando-se a cada dois meses no meio da noite para escapar do aluguel. 

16/4/1927: com a idade de 48 anos, Vincenzo é pai do oitavo filho, na Ponte Pequena em São Paulo, com Rosa Mazziotta (então com 38 anos). Seria Antônio, em homenagem ao seu bisavô ou ao primo de Vincenzo. Seu nome significa “digno de apreço”. Antônio foi operário e faleceu em 1989, em São Paulo, aos 62 anos. Casou-se com Olinda Benedetti em 1948 e deixou 4 filhos. Joana, filha de Antonio, acreditava que seu pai havia nascido logo que a família chegou ao Brasil, quando na verdade havia sido sua irmã Elvira.

1927: EM 28/4, OS BRASILEIROS JOÃO RIBEIRO DE BARROS, NEWTON BRAGA E JOÃO NEGRÃO TORNAM-SE PIONEIROS AO FAZER UMA TRAVESSIA AÉREA DE GÊNOVA (ITÁLIA) ATÉ FERNANDO DE NORONHA (PE) A BORDO DO HIDROAVIÃO JAHÚ

NO MESMO ANO, ESTRÉIA NOS EUA O 1º FILME FALADO, “THE JAZZ SINGER”, COM AL JOLSON

AINDA EM 1927, OS ITALIANOS NICOLA SACCO E BARTOLOMEO VANZETTI SÃO EXECUTADOS EM CHARLESTOWN/EUA, POR UM CRIME QUE NÃO COMETERAM. ERA O AUGE DA DISCRIMINAÇÃO CONTRA ITALIANOS

1928: PUBLICADO O LIVRO “MACUNAÍMA, O HERÓI SEM NENHUM CARÁTER”, DE MARIO DE ANDRADE. O LIVRO PROCURA RETRATAR O POVO BRASILEIRO

NO MESMO ANO, O DESENHO ANIMADO MICKEY MOUSE É APRESENTADO POR WALT DISNEY NO CURTA METRAGEM “PLANE CRAZY

AINDA EM 1928, É DESCOBERTA A PENICILINA PELO ESCOCÊS ALEXANDER FLEMING

 

Fevereiro/1929: Filho de Vincenzo e meu avô, Ernesto (in memoriam) contava que foram para a Hospedaria do Imigrante por conta de grande enchente do final de janeiro no Rio Tietê em São Paulo, quando quase morreram e foram retirados por bombeiros. Moravam na R. Pedro Vicente, 49 na Ponte Pequena, exatamente onde hoje é a Estação Armênia do Metrô. Neta Neide conta que seu pai plantou uma árvore que está lá até hoje. Essa pode ter sido a primeira vez que foram para a hospedaria, pois no desembarque devem ter ido para a fazenda de laranjas já mencionada.

Nota no jornal informando a mudança para a Hospedaria

Vista tomada das proximidades da Rua Pedro Vicente em direção à Rua Luís Pacheco. Foto de 1929 (Foto: Saudade Sampa) 

Relato do Museu da Imigração, que abriga o prédio onde era a hospedaria: “Evidentemente, quem habitava próximo às margens dos rios Tietê, Pinheiros, Tamanduateí e das dezenas de córregos e riachos espalhados pela cidade eram aqueles que mais sofriam com os danos causados pelas chuvas. Em janeiro de 1929, o bairro do Canindé estava inundado. Os moradores precisaram ser removidos em dois batelões e dois botes. O campo de Marte virou um lago e um avião sem asas foi transformado em barco. A várzea do Ipiranga também estava sob a água; do alto do bairro, a estação de trem da São Paulo Railway parecia uma ilha em meio à desordem. Os jornais alertavam as pessoas que se aventuravam a nadar para que tomassem cuidado com cobras, detritos e corpos de cães que apareciam boiando. Além disso, muitos indivíduos foram levados mortalmente pelas águas. Os casos fatais ocorreram, principalmente, na Ponte Pequena, no Canindé, na Penha, no Ipiranga e na Vila Guilherme”.

 

1929: NA GESTÃO PIRES DO RIO, INAUGURAÇÃO DO EDIFÍCIO MARTINELLI EM SÃO PAULO, IDEALIZADO PELO IMIGRANTE GIUSEPPE MARTINELLI. FOI O MAIOR ARRANHA CÉU DO PAÍS ATÉ 1947, COM 105m DE ALTURA. OUTRO GRANDE EDIFÍCIO LIGADO À COLÔNIA ITALIANA EM SÃO PAULO É O EDIFÍCIO ITÁLIA, INAUGURADO EM 1965 COM 165m.

EM 11/2, CRIAÇÃO DO ESTADO DO VATICANO SOB O PAPADO DE PIO XI, SE TORNANDO INDEPENDENTE DA ITÁLIA E O MENOR ESTADO DO MUNDO. SITUAÇÃO SE ARRASTAVA DESDE A TOMADA DE ROMA EM 1870

EM 29/10, OCORRE A QUEBRA DA BOLSA DE NOVA YORK. CONSEQUÊNCIAS SE ARRASTAM POR UMA DÉCADA. NO BRASIL, ESTOQUES DE CAFÉ COMEÇAM A SER QUEIMADOS PELA QUEDA DE PREÇOS. CHEGAVA AO FIM OS "LOUCOS ANOS 20"

NO MESMO ANO, O FILME “WINGS” (ASAS) GANHA O 1º OSCAR DE MELHOR FILME, COMO UM DRAMA DE GUERRA, ESTRELANDO CLARA BOW, A MAIOR ESTRELA DA ÉPOCA DO CINEMA MUDO

1930: FIM DA IMIGRAÇÃO SUBVENCIONADA E NOVA QUEDA DA COTAÇÃO DO CAFÉ NO BRASIL DE WASHINGTON LUÍS, REDUZEM AINDA MAIS A IMIGRAÇÃO


29/6/1930: com a idade de 51 anos, Vincenzo é pai do nono e último filho, em São Paulo, com Rosa Mazziotta (então com 41 anos). Seria uma nova Elvira, já que anterior havia falecido. As testemunhas foram José Carrocino, filho da prima Elvira já falecida e Carlos Vasco, filho da outra prima Maria, ambas filhas de Carlo Maria (o que prova que Vincenzo tinha contato com a família de seus tios migrados na década de 1880). Moravam na Rua Scuvero, 83 - Cambuci, em São Paulo, bairro onde já residiam seus familiares.

Rua Espírita, próxima a Rua Scuvero - Cambuci, 1927. Fotógrafo Caio P. Barreto. Álbum Memória Pública do Acervo do Arquivo Público de São Paulo. 

EM JULHO, 1ª COPA DO MUNDO É DISPUTADA NO URUGUAI E VENCIDA PELOS DONOS DA CASA, EM UMA FINAL HISTÓRICA CONTRA A ARGENTINA. ITÁLIA NÃO PARTICIPA DEVIDO ÀS DIFICULDADES LOGÍSTICAS

EM OUTUBRO DO MESMO ANO, GETÚLIO VARGAS TOMA O PODER EM GOLPE DE ESTADO. UM DE SEUS PRIMEIROS ATOS FOI CRIAR A LEI DOS 2/3, OBRIGANDO AS EMPRESAS A TEREM PELO MENOS DOIS TERÇOS DE SEUS FUNCIONÁRIOS BRASILEIROS NATOS

UM MÊS ANTES, OCORRIA O MESMO NA ARGENTINA, COM JOSÉ FELIX URIBURU (O PERÍODO É CONHECIDO LÁ COMO A DÉCADA INFAME)