MARTELLOTTA
450 anos de histórias de uma família italiana na Vecchia Botta e na ‘Mérica
Uma viagem pela história do sobrenome Martellotta, desde as suas origens até meados do século XX. Utilizo uma linha do tempo do meu ramo familiar que vem desde o século XVII até 1954, ano da morte de meu bisavô. Tudo pontuado com análise crítica dos fatos, deduções para as lacunas, curiosidades e acontecimentos históricos ocorridos no mundo nesse período, em especial nos 5 países em que a família se estabeleceu ou teve passagem: Itália, Estados Unidos, Brasil, Argentina e Uruguai. Foi feito a partir de intensa pesquisa iniciada em 2010 e que envolveu toda a família espalhada por esses países. Recomendado para quem se interessa por Genealogia, Imigração e História.
André Martellotta, filho de Walter, neto de Ernesto, bisneto de Vincenzo, trisneto de Giuseppe, tetraneto de Antonio, quinto-neto de Vincenzo, sexto-neto de Biase...
Origens do sobrenome
A tradição "fulano filho de sicrano", chamada patronímica, vem desde tempos imemoriais. Temos como exemplo os sobrenomes anglo-saxões terminados em son (filho), como Anderson (filho de André). Temos também os sobrenomes eslavos terminados em ic (Petrovic - filho de Pedro), portugueses terminados em es (Antunes), espanhóis terminados em ez (Fernandez) e italianos terminados em i (Giuliani). Obviamente, esses sobrenomes perderam sua função patronímica há muito tempo, se tornando sobrenomes de família. Outros tipos de sobrenomes são os toponímicos (de lugar), como Silva (selva) e Oliveira, de características físicas como Grassi (gordo) e Young (jovem), religiosos como dos Santos e dos Anjos, zoonímicos como Leão e Galo e de ofícios como Smith (ferreiro) e Martellotta.
Os sobrenomes modernos começaram a surgir por volta dos séculos IX e X, com o surgimento de uma nova ordem social e crescimento dos centros urbanos. Na Itália, o uso de sobrenomes é inicialmente exclusividade de famílias ricas, mas em 1200 em Veneza e no século seguinte em outras regiões, ainda que com alguma resistência e demora, o uso se estendeu às camadas menos abastadas da população. Com o Concílio de Trento de 1564, foi sancionada a obrigação dos párocos de manterem um registro ordenado dos batismos com nome e sobrenome, para evitar casamentos entre parentes. O sobrenome, ou nome do meio, tornou-se, por fim, hereditário.
O sobrenome Martellotta é originário da Apúlia (salto da Bota). Provavelmente da comune de Alberobello, que fica no interior a 70 km de Bari, de onde partiram muitos Martellotta para o mundo. Alberobello é la cittá dei trulli, que são antigas construções de pedra com telhados cônicos. Lá, encontramos várias ruas e praças com o sobrenome.
Na França, onde os sobrenomes já eram usados há mais tempo, temos o caso de Martel, do dialeto francês medieval (caso do famoso Charles Martel da dinastia carolíngia e avô de Carlos Magno) e temos também os sobrenomes normandos Martelot e Marthelot, todos derivados de Marteau (martelo). Os normandos chegaram no sul da Itália a partir da Apúlia no final do século X, retornando da Terra Santa, pouco antes da I Cruzada, o que reforça a teoria de que Martellotta é originário desses últimos sobrenomes.
O sobrenome e suas variações estão assim distribuídos no Sul da Itália:
- Martilotti: 42 famílias na Calábria (41 em Cosenza - interior); 7 famílias na Apúlia.
- Martilotta: 10 famílias na Calábria (todas em Cosenza - litoral); 1 família na Basilicata; 1 família na Campania.
- Martellotta: 10 famílias na Calábria (9 em Cosenza - interior); 230 famílias na Apúlia; 1 família na Basilicata; 30 famílias na Campania.
Segundo o Dicionário das Famílias Brasileiras, é um sobrenome retirado de uma profissão, composto de martello com o sufixo otta, que transmite a ideia de oficio. Se refere ao fabricante e mercador desse utensílio e também ao guerreiro que lutava com ele (já que Marte é o deus romano da guerra). O instrumento martelo é usado como prefixo para vários sobrenomes espalhados de Norte a Sul da Itália, como Martellaci, Martelletti, Martellato, etc. Cada um se refere à uma família diferente.
A grafia mais antiga já encontrada para o meu sobrenome é Martilotto, no século XVIII. Seria derivada do espanhol martillo (martelo). Isso pode se dever ao fato do sul da Itália ter sido dominado pelos espanhóis durante todo aquele século. Existem muitas variações desse sobrenome, como Martellotto, Martelotti, etc. Mas é muito provável que a grafia correta atual seja mesmo Martellotta. Porém, caso a pessoa se naturalize italiana, deverá usar o sobrenome Martillotta, a grafia antiga da época espanhola, que era vigente quando os registros civis começaram. Além da Itália, o sobrenome está espalhado pelo Brasil, Argentina, Estados Unidos, França, Austrália, Bélgica, Suíça, Inglaterra, Alemanha, Luxemburgo, Escócia, Espanha e Uruguai.
Nesse vídeo, o Largo Martellotta aparece logo no início. É a principal praça da cidade.
Possível brasão da família
TENHA ORGULHO DE SEUS HUMILDES ANTEPASSADOS
São as pessoas humildes que eu procuro,
O sal da Terra, por assim dizer,
Aqueles que domaram o solo bruto,
E fizeram nele as sementes florescer.
São estes que eu gosto de encontrar,
Quando mergulhada na estrada da genealogia.
E é apenas por orgulho que me deixo levar,
Refazendo seus passos para assim os imortalizar.
Aqueles que buscam o passado com sonhos de glória,
De encontrar heróis e ducados em cada história,
Não devem jamais se desapontar
Ainda que descobrirem que os humildes antepassados
Tinham somente as estrelas para contemplar.
G. McCoy
Source: The Sunny Side of Genealogy,
compiled by Fonda D. Baselt,
Genealogical Publishing Co., Baltimore, 1988, p.10
(tradução livre: Lea Beraldo)
AGRADECIMENTOS
Paolo Chiaselotti, por toda a pesquisa em San Marco Argentano.
Cartório de San Marco Argentano.
Walter, Mário e Vicente, filhos de Ernesto, netos de Vincenzo.
Humberto Filho, filho de Umberto, neto de Vincenzo.
Nilton (in memoriam) e Pedro, filhos de Eugenio, neto de Vincenzo.
Joana, filha de Antônio, neta de Vincenzo e esposo Bruno.
Neide Ferrari e Hilda, filhas de Lauretta, netas de Vincenzo e seu sobrinho Toninho.
Stella Maris, Lucia e Etel, netas de Giuseppe, bisnetas de Vincenzo.
Janina Ambrósio, filha de Gisa, neta de Angiolina, bisneta de Vincenzo e seu pai Aldo Ambrósio.
Amalia Langella, bisneta de Antonio (primo de Vincenzo) e seu filho Giacomo.
Michelle, do ramo de Santa Caterina Albanese.
MCampbell, marido da neta de Lucia Williams (ramo Steffano) nos EUA.
Francesco Martillotta, bisneto de Antonio (primo de Vincenzo).
Jorge Martellotta, da família que foi para o Uruguai.
Franco Loschiavo, da família de minha avó paterna, de Vibo Valentia.
Neyl Soares Martellotta, do ramo da família no RJ.
Carlos Moraes, do ramo da família no RJ.
Sebastião Larocca, de Curitiba, neto de Maria (Castro/PR)
Armando Carlos Martellotti, bisneto de Nicola (São Paulo/SP)
Meu homônimo André Martellotta, descendente de puglieses.
Daniel Taddone, sociólogo e apaixonado por imigração.
Aos amigos Cláudio Serio e Conny Grili.
Aimee Fernandez-Puente, Gerente Local History & Special Collections Department, Elizabeth Public Library.
Maggie Cusick, Bibliotecária do Chicago History Museum.
Luciana Facchinetti (in memoriam), pela atenção dada ao meu avô Ernesto enquanto vivo.
A TODOS OS MEUS ANTEPASSADOS QUE POSSIBILITARAM A MINHA EXISTÊNCIA
FONTES
Wikipedia
Storia Dimenticata, do escritor italiano Deliso Villa
Parla! O Imigrante Italiano do segundo pós-guerra e seus relatos, de Luciana Facchinetti
Nosso Tempo - A Cobertura Jornalística do Século XX, do Jornal da Tarde
Dicionário das Famílias Brasileiras
Financing an Empire - A History of Banking in Illinois
San Marco Argentano - site de Paolo Chiaselotti
Cognomix - Sobrenomes Italianos
Forebears - significados de sobrenomes
Centro Internazionale Studi Emigrazione Italiana
Museu da Imigração do Estado de São Paulo - Acervo digital
Centro de Estudios Migratorios Latinoamericanos
The State of Liberty - Ellis Island Foundation
Arquivo do Estado de São Paulo - Acervo Digital
Termine primeiro o seu trabalho a céu aberto; deixe pronta a sua lavoura. Depois constitua família.
Provérbios 24:27